O Recital de Andrey Santos, cria do Vasco
Um desavisado que vê de longe o menino parado, calmo, com as mãos na cintura e o sorriso lhe escapando naturalmente por entre os lábios, imagina se tratar de um garoto à espera do ônibus da escola ou no aguardo dos pais. É, porém, na verdade, Andrey Santos na expectativa para iniciar mais um de seus recitais.
Sozinho, dentro da pequena área, o meia anseia pelo passe curto de Thiago Rodrigues. Ali, plantado, como se fosse uma presa frágil, traça rotas de fuga e calcula riscos. Tudo numa fração de segundos, intuitivamente. E antes que percebam, já foi.
Do lado de fora das linhas que delimitam a área, dois ou três marcadores aguardam a pelota girar para lhe dar o bote. Estão à caça. Andrey sabe que é o alvo. O Vasco também. E, por isso, engana. O erro do adversário está em ver apenas o que os olhos mostram.
Andrey com a bola nos pés não é presa, é caçador. E a redonda, a isca. O que para alguns representa perigo, para Andrey é só mais uma dia no parque. É natural para ele.
Veja bem, não é uma questão de tempo, de experiência. A relação de Andrey com a bola é umbilical. Nasceram um para o outro. Isso fica claro em cada gesto.
Recebe, roteia, passa e corre. Recebe de volta, na frente, conduz, tira dois e inverte. Corre novamente, se apresenta e recebe. É como se os outros fossem apenas ajudantes, coadjuvantes de seu espetáculo. É o garoto batendo bola na parede. Ele e ele, sem obstáculos reais.
“Segura a bola aqui um instante. Obrigado, já pode devolver”.
Aos 18 anos de idade, o menino tem responsabilidade de adulto. Não é mais uma criança esperando condução, é o próprio motorista.
Já não é nem mais apenas de uma área à outra, da intermediária defensiva até a ofensiva. É de goleiro a goleiro. Um trajeto longo, mas que para Andrey parece curto.
É isso: Andrey encurta caminhos. Seja driblando e tocando desde a defesa, ou seja desarmando, servindo e finalizando no ataque.
Não há nada que Andrey não faça em campo. E faz tudo bem . Ao ponto da grande dúvida em relação ao seu talento, que pauta as conversas de escritórios e botequins nesta sexta-feira, ser essa: será que também pega pênaltis?
É só o que resta descobrir.
A camisa 8 vascaína tem seu peso, sua história. Peso esse que Andrey parece não sentir. Ou melhor: peso esse que Andrey demonstra que consegue sustentar. Não é que lhe fica leve, é que suas pernas estão prontas para aguentar – inclusive as pancadas adversárias.
Mais do que o número de Geovani e Juninho Pernambucano, Andrey carrega agora às costas o símbolo do infinito. Simbólico. Não só para o menino, de um talento sem fim, mas principalmente para o Vasco, que tem na sua base a garantia de imortalidade.
Fonte: Coluna do Garone