Ramonismo, do Vasco à seleção brasileira em um curto período; entenda
Se tivesse um currículo mais robusto e falasse outra língua que não português, Ramon Menezes poderia perfeitamente convocar a seleção brasileira hoje, às 11h, no Windsor Hotel, não como interino, e sim como técnico efetivo. A lista será para o amistoso contra o Marrocos, em Tânger, marcado para o dia 25.
Seu perfil bate perfeitamente com o que Ednaldo Rodrigues busca para substituir Tite. Entre os requisitos, moderação tem peso duplo. E isso Ramon tem de sobra. Ele é discreto e isso contou muitos pontos para sua carreira decolar em três anos, desde a chance de ser efetivado como técnico do Vasco, em 2020, até a convocação de hoje.
Seus dois trabalhos mais notórios são pouco inventivos. O Ramonismo, como os vascaínos chamaram a boa fase fugaz da equipe nas primeiras rodadas do Brasileiro, defendia-se bem e dependia da eficiência acima da média do setor ofensivo, liderado por Germán Cano, para converter em gol as poucas chances ofensivas que eram criadas.
Isso se repetiu três anos depois. As estatísticas da Conmebol a respeito do Sul-Americano mostram que a seleção brasileira não foi quem mais trocou passes, quem passou a bola com mais qualidade ou quem finalizou mais na competição. Foi quem teve a melhor conversão em gol de finalizações e quem melhor cruzou bolas na área.
Pode não ser o jogo mais bonito de se ver, mas é eficiente. No Vasco, em 2020, foi demitido depois de sequência de derrotas, mas era décimo colocado no Brasileiro. O rebaixamento da equipe ao fim da temporada deixou claro que teve méritos ao conseguir manter o time na parte de cima da tabela. No Sul-Americano, não encantou, teve momentos de dificuldade, mas conquistou o título e levou o Brasil novamente ao Mundial Sub-20, depois de dois fracassos seguidos de treinadores que o antecederam.
Seus times, comedidos, refletem como Ramon é no trato com os jogadores no vestiário. Não é adepto de preleções pirotécnicas e nem de broncas histéricas. Ainda que enérgico, o ex-treinador prefere se relacionar com os jogadores à base da conversa.
A ascensão rápida na carreira — foi contratado para treinar o sub-20 do Brasil em março do ano passado, mesmo sem ter um trabalho, seja na base, seja no profissional, que saltasse tanto aos olhos — ocorreu graças ao perfil estudioso que assumiu como técnico. Ele tem uma rotina de assistir a jogos em busca de entender as tendências do jogo. É muito aberto à troca com os analistas de desempenho de suas comissões técnicas, algo que Tite fazia na CBF e a entidade procura manter.
O empirismo acumulado na vivência como jogador ele guarda para o contato com os jogadores, a tentativa de administrar o vestiário, entender questões que possam estar atrapalhando o desempenho de um ou de outro. No Vasco, chamou a atenção por implementar uma rotina de treinos extras de cobranças de falta, fundamento menos trabalhado por treinadores atualmente. Na época, agradou. E conseguiu aumentar o número de gols de falta pelo time da Colina a partir disso.
Lugar certo, hora certa
Na seleção sub-20, o tempo para trabalhar é muito menor, dificulta grandes construções táticas, mas favorece técnicos que buscam o jogo mais direto, como Ramon Menezes. Ainda assim, não foi apenas o trabalho feito à frente da equipe de base que o creditou a treinar a seleção principal na próxima Data Fifa.
Ramon contou com a sorte de estar no lugar certo, na hora certa, para viver o ápice de sua carreira, ainda que de forma interina. A saída de Tite e a dificuldade que a CBF encontra para avançar na contratação de um treinador dá a brecha que Ramon Menezes precisa. O tempo corre a favor do ex-meia, com passagem marcante pelo Vasco. Quanto mais a entidade demorar para achar um substituto, maior será a cobrança por uma definição e mais tempo Ramon Menezes terá no cargo.
Lionel Scaloni, campeão do mundo com a Argentina em 2022, assumiu a seleção assim, provisoriamente, depois de a AFA acumular negativas de treinadores. Com o tempo no cargo e o lobby de Messi, acabou efetivado.
Fonte: Extra