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PF investiga a máfia das apostas no futebol; entenda esquema

Há um ano, em 18 de maio de 2022, entrevista do Correio Braziliense com o consultor de Integridade do Comitê Olímpico do Brasil (COB) na prevenção e combate à manipulação de competições e Presidente do Comitê de Integridade da Federação Paulista de Futebol (FPF), Paulo Schmitt, alertava para a sujeira empurrada para debaixo do tapete pelos cartolas.

O primeiro parágrafo do texto alertava para a gravidade do assunto: “O futebol brasileiro vive uma explosão no número de casos de manipulação de resultados. O número saltou de seis, em 2016, para 88 em 2021. Nove deles no Candangate — o escândalo denunciado pelo Correio no Campeonato do Distrito Federal. O país é o epicentro das fraudes no esporte mais popular do mundo, mas outras modalidades estão contaminadas”.


A passividade acabou, ontem, na marra. Sob pressão da Operação Penalidade Máxima deflagrada no início deste ano pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) para apurar adulteração de resultados nas séries A e B do Campeonato Brasileiro, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), as federações e os clubes finalmente decidiram mexer no que estava oculto. A pedido do presidente Ednaldo Rodrigues, a Polícia Federal entrará em campo na apuração do escândalo. A ordem partiu do ministro da Justiça, Flávio Dino. De acordo com ele, existem indícios de que o esquema envolve atletas de vários estados — o que adentra a jurisdição da PF.

A apuração da Operação Penalidade Máxima indica que as fraudes não se restringem aos torneios de menor visibilidade. As falcatruas nas quatro linhas alcançaram a instância mais alta do futebol nacional: a Série A. Isso significa que parte dos jogadores mais bem pagos do Brasil pode ter sido corrompida.


O MP-GO apresentou denúncia à Justiça e tornou réus 16 investigados — sete jogadores e o restante chefes da suposta quadrilha. Até o fechamento desta edição, oito clubes, sendo seis da Série A (Santos, Coritiba, Cruzeiro, Athletico-PR, Fluminense e América-MG), um da B (Avaí) e outro da C (São Bernardo) afastaram preventivamente do elenco atletas suspeitos.

Clubes e casas de apostas on-line são considerados vítimas. A relação entre as instituições e os cassinos estão são cada vez mais estreitas. Trinta e nove dos 40 times das Séries A e B ostentam com marcas do ramo nos uniformes — O Cuiabá é a exceção.

No campo esportivo, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, garantiu, ontem, que as competições não serão interrompidas e apontou para uma apuração em nível mundial. “Venho trabalhando em conjunto com a Fifa, demais entidades internacionais, além de clubes e federações brasileiras com o intuito de combater todo e qualquer tipo de crime, fraude ou ilícito dentro do futebol. Defendo a suspensão preventiva baseada em suspeitas concretas e até o banimento do esporte em casos comprovados. Quem comete crimes não deve fazer parte do futebol brasileiro e mundial”, disse o dirigente em nota oficial.

A apuração da PF chega em momento crucial do debate na Esplanada dos Ministério. Os sites de apostas são legalizados, mas não regulamentados. Ao todo, são 450 no Brasil. Todos movimentam R$ 12 bilhões e há estimativa de R$ 12,5 bilhões neste ano.

Os cassinos turbinam o esporte. Compram naming rights como o da Copa do Brasil e ocupam espaços nobres em uniformes. Atletas são garotos-propaganda. Alguns, inclusive, jogam e apostam. Hoje, é quase impossível rastrear o dinheiro. As sedes das firmas ficam no exterior. Logo, é impossível determinar a instalação de escritórios no país e taxas para trabalhos de inteligência e combate à manipulação.

A regulamentação tem um lobby pesadíssimo em Brasília. Fez até com que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometesse dar celeridade ao debate. Dirigentes de clubes desembarcam em Brasília quase toda semana para encontros com o governo. Querem mais dinheiro das apostas depois da regulamentação e descolaram da CBF no debate.

Os cartolas alegam que o setor injeta R$ 3 bilhões em patrocínios esportivos. O valor contempla clubes, competições e transmissões. Todos temem que essa quantia despenque depois da regulamentação. Haddad prevê arrecadar R$ 15 bilhões com tributação de sites e apostas on-line. “Se é uma realidade do mundo virtual, nada mais justo que a Receita Federal tributar”, afirmou recentemente em entrevista ao Estúdio i, da GloboNews.

Fonte: Correio Braziliense

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