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Relações conturbadas: Bastidores da coletiva de Mattos expõem atritos com a 777 no Vasco

O desabafo de Alexandre Mattos nesta terça-feira tomou para si os holofotes da coletiva de apresentação de Adson, Victor Luís, Galdames e Keiller, as quatro contratações mais recentes do Vasco.

Em três respostas, o diretor do Vasco citou vetos constantes da 777 Partners a nomes de potenciais reforços sugeridos por ele, disse que gostaria de ser mais agressivo no mercado e não escondeu o incômodo com a demora no processo interno de contratações. Existe no momento uma relação desconfortável entre Mattos e os executivos da empresa que detém 70% da SAF vascaína, e a coletiva serviu para expor isso.


A postura de Alexandre Mattos não passou ilesa e causou inquietação em alguns setores do clube. Dos primeiros passos da constituição da SAF ao dia a dia da empresa, a gestão da 777 no Vasco costuma prezar pela discrição em seus processos.

“Se a 777 deixar”

No Vasco, Mattos sente-se incomodado com a pressão e as cobranças direcionadas a si com relação a contratações, apesar de não ter “a palavra final”, como ele mesmo disse na entrevista:


– Eu direciono alguns caminhos que eu faria. Alguns são aceitos e outros não. Às vezes coloco algumas necessidades, e eles dizem “não”. Tenho que compreender isso e bola para frente.

Diferente do que acontece no Cruzeiro e no Botafogo, que contam com as figuras centralizadoras de Ronaldo e John Textor, por exemplo, a 777 Partners não tem um porta-voz. Lúcio Barbosa é o CEO da SAF, mas Mattos é o alvo das cobranças quando o assunto é contratação.

Querendo ou não, a coletiva aliviou o peso nos ombros do diretor e transferiu o descontentamento da torcida para a empresa que gere o futebol, com hashtags “777fraude” e “Fora777” nas redes sociais.

Os relatos da frustração de Mattos vêm de todos os lados. Após a entrevista desta terça-feira, as declarações repercutiram nas redes sociais. O diretor comentou em uma postagem e tentou amenizar a situação, dizendo que acredita no projeto da 777:

– Jogar a toalha jamais… lutei e abri mão de situações para estar aqui… quero e muito contribuir, e estou contribuindo, no projeto…senão acreditasse no clube, nos profissionais que aqui estão, inclusive nos da 777, não teria nem vindo… ajustes sempre precisam ser feitos em qualquer empresa ou clube… usar minhas palavras numa briga política que não dá, só fará mal ao Vasco, isso não pode acontecer… Ainda temos muito trabalho pela frente, investimentos existiram já e irão continuar, não só no futebol mas em estrutura, categoria de base etc… O Vasco será um time cada vez mais competitivo, responsável e sustentável de médio e longo prazo – escreveu ele.

Decisões arrastadas

Como um dos primeiros atos de sua gestão, ainda em dezembro, Alexandre Mattos mapeou as posições que precisavam ser reforçadas e indicou à 777 mais de 15 nomes, mas a maior parte não teve sequer as tratativas iniciadas.

O processo interno de contratações do Vasco SAF não é nenhuma novidade: o reforço precisa ter suas credenciais levantadas por pelo menos duas equipes de scout, passar pelo crivo da comissão técnica, da diretoria para, então, ter seu nome levado para a 777. Isso leva dias ou até semanas.

Toda e qualquer contratação que envolva investimento (aquisição de direitos econômicos, luvas, comissões…) necessita do aval dos executivos da empresa. Mattos responde diretamente ao alemão Johannes Spors, mas algumas decisões também pedem o carimbo de Don Dransfield, CEO da 777 Football Group, que é o braço que gerencia os clubes de futebol da empresa.

– […] precisamos ajustar para a realidade do futebol brasileiro, se não a gente perde competitividade. Eu já disse isso internamente – disse Mattos na entrevista de terça-feira.

Nos casos recentes de Jair e Paulinho, que romperam o ligamento do joelho e vão perder a temporada praticamente inteira, não existe uma previsão de orçamento para reposição de jogadores machucados ou algo do tipo. Mattos se queixou a pessoas próximas que o processo até conseguir convencer os executivos da necessidade de contratar substitutos é desgastante e leva tempo.

Na coletiva, ele disse que já deu “duas ou três opções” de reforços para o caso dos lesionados: “Estou esperando aprovar. Se aprovar, virão”.

Orçamento levado à risca

Mattos participou da reunião do Conselho de Administração da SAF que definiu o orçamento de 2024 em diversas áreas, incluindo o dinheiro destinado para contratações.

O zagueiro João Victor foi o primeiro reforço da era Alexandre Mattos no Vasco, que combinou com o Benfica o pagamento de 6 milhões de euros (cerca de R$ 32 milhões). Já o atacante Adson, que estava no Nantes, custou 5 milhões de euros (R$ 27 milhões). Os dois reforços comprometeram um pedaço substancial da verba destinada para contratações.

O argentino Juan Sforza, do Newell’s Old Boys, está a algumas assinaturas de ser contratado por cerca de R$ 30 milhões, mas porque, nesse caso, a SAF autorizou o uso de parte do dinheiro da venda de Marlon Gomes – os valores dos negócios fechados por Marlon (vendido ao Shakhtar Donetsk por 12 milhões de euros) e Gabriel Pec (vendido ao LA Galaxy por 10 milhões de dólares) pesam a favor de Mattos nessa balança.

Internamente, a 777 considera satisfatório o tamanho do investimento. Com a chegada de Sforza, o Vasco vai ultrapassar os R$ 100 milhões destinados a reforços na primeira janela pelo segundo ano consecutivo, levando em consideração o que também foi pago por Robert Rojas e pelas aquisições de jogadores que estavam no elenco em 2023, como Mateus Carvalho, Praxedes e Paulo Henrique.

Fonte: ge